terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Os dois caminhos


O caminho largo (Mt. 7.13)

Como conceituar o caminho largo/ espaçoso, segundo as palavras de Jesus? Um método prático e atual para comparação da palavra caminho, “estreito ou largo”, é observar um julgamento em um tribunal. Os advogados, tanto a acusação quanto a defesa, tentam de todas as formas fazer o juiz compreender a culpa ou a inocência de seu cliente. Num julgamento justo, o que estará em discussão serão as atitudes que o réu praticou, com ou sem dolo ou, se realmente é inocente, isto é, não praticou nada daquilo que é acusado. Caminho largo então será que tem haver com dinheiro? Com posição? Com comida ou bebida? Com jogos ou festas? Não. Tanto no original grego quanto no hebraico a palavra caminho, como Jesus ensinou ao povo, entende-se como uma conduta, maneira de pensar, de agir. Essa é uma condição que, se quisermos chegar ao fim, teremos que abraçar. E nisso não existem meios termos. Ou se é cristão ou não é (não crente, cfe Tg 2. 19,20).

Quando Jesus Cristo, na separação de seus escolhidos, fala aos outros, rejeitados: “afastai-vos de mim, pois não vos conheço (Mt. 7.23;25.41)”, faz menção, não ao que levaram a mais no caminho, materialmente falando, mas ao fato de não abraçarem tudo aquilo que Ele ensinou, pois Sua palavra seria o essencial para chegarem ao outro lado. Sua lei, a lei da liberdade, conforme escreve o apóstolo Tiago: “Aquele que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas fazedor da obra, este será bem-aventurado no que fizer (Tg 1.25)” responderá a pergunta dos escolhidos, separados como ovelhas (Mt 25.37-40). Caminho largo então é uma conduta ou maneira de pensar e agir que não está de acordo com tudo o que Jesus ensinou: “Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo. Desses dois dependem toda a lei e os profetas (Mt. 22.40 e referências)”.

Em Mc. 12.28-34, o escriba que pergunta algo a Jesus fica atônito e ao mesmo tempo impressionado quando ouve a resposta dEle. Atônito, pasmo, pois fica sem ação ante a serena colocação de Jesus sobre os mandamentos. Impressionado, devido a resposta que ouve transpassar, ir além, colocar em dúvida tudo aquilo que aprendera em sua congregação ou sinagoga. O escriba então fala do fundo do coração: “Muito bem Mestre, e com verdade disseste que há um só Deus, e que não há outro além dEle, e que amá-Lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a sua alma, e de todas as suas forças e amar ao próximo como a si mesmo é mais que holocaustos e sacrifícios(v.32,33)”. Ele conhecia a lei, como a maioria dos judeus, porém não praticava um nada do que aprendia. Estava desejoso de ir ao céu, só que pelo caminho largo, pois Jesus mostra a posição dele através de suas ações, ante o Reino dos Céus, dizendo que: “não estás longe do Reino de Deus (v.34)”, o que indica que ele, como o jovem rico de Mc 10. 21, não passava de simples religioso, e faltava-lhe uma coisa.

A conduta que havia até então era desprezar o seu próximo. “Fechar o caminho, não entrar nem deixar os outros passarem. Devorar a casa das viúvas sob pretexto de grandes e prolongadas orações. Converter alguém para sua religião e depois, o transformar em seu sucessor, igual a si. Achar que o ouro era mais santo que o templo. Que a oferta era mais preciosa que o altar”. Eles não sabiam como usar o mapa nem seguir a agulha da bússola (o Tenak – nosso Antigo Testamento). Jesus então diz que eles, como condutores, são cegos. Um mosquito para eles era um problemão e um camelo passava fácil-fácil em sua peneira. Era um crivo semelhante aos de hoje: dar o dízimo de coisas insignificantes ou não, e ainda esquecer o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé. Por fora pareciam limpos, excelentes pessoas, mas por dentro eram cheios de rapina e iniqüidade. Verdadeiros sepulcros caiados. Os sepulcros dos profetas e dos justos eram adornados e ainda diziam sempre que, “se existíssemos na época de nossos pais, nunca nos associaríamos nisso para derramar o sangue dos santos profetas”. Testificavam que eram filhos dos que mataram os profetas, mesmo assim sempre exaltavam seus pais. São chamados então por Jesus de “hipócritas” (Fonte: Mt 23. 13-32).

Por esse caminho eles vinham seguindo, desde a libertação do Egito, por Moisés. Jesus assevera: “Como escaparão da condenação do inferno? (v.33)”. A estreiteza ou a largura do caminho não tem na palavra de Deus nenhuma relação com o possuir dinheiro, o luxo, as festas, etc..., neste caso Salomão não construiria um palácio tão luxuoso, o que causara grande êxtase na rainha de Sabá. Porém, esta definição de caminho largo está diretamente ligada ao não cumprimento do que Jesus ensinou em seu ministério, e que aboliu toda a lei: O AMOR. E quem ama ao próximo, já cumpriu a lei (Rm. 13. 8-10). No caminho largo dificilmente você verá amor ao próximo, muito menos amor em família. Jacó, com a ajuda de sua mãe Rebeca, usurpou o direito de primogenitura de seu irmão Esaú. Absalão, filho do rei Davi, tentou tomar o poder do pai e foi morto. Imperadores romanos, inclusive Constantino, que dizemos que se converteu e ajudou a igreja de Cristo (Cristo precisou de ajuda?), matavam esposas, irmãos, amigos, etc. Um exemplo com Constantino é ele ter mandado matar Crispo, seu filho, e sufocar sua esposa Fausta. Guerra é o que mais vivenciamos. Quem chegar primeiro sempre é valorizado. Nisso o caminho largo é cheio de exemplos, pois se amarmos o próximo, possivelmente seremos o segundo colocado, porque estaremos atrás, empurrando, ajudando. Pena que algumas atitudes desse caminho são visíveis cotidianamente em nosso convívio cristão, na igreja. Por isso Jesus explica que os últimos, que ficam atrás, empurrando, serão os primeiros, como analogia (comparação).

Em Mc. 10.17-27, Jesus revela seu amor para um jovem religioso, crente. As doutrinas fundamentais da fé ele conhecia (Hb 6.1). Jesus então pede uma coisa pra ele: “Vá, venda os seus bens e dê aos pobres. Com isso, ganhará um tesouro no céu”. O jovem “crente” ficou pensando que isso seria loucura, pois possuía muitos bens. Será que a causa das pessoas continuarem seguindo no caminho largo ainda são as riquezas (o dinheiro, a boa posição, o reconhecimento)? Claro que sim, pois isto alimenta o “eu”, o “ego”, o “ídolo de carne e osso”. Porém Jesus responde aos discípulos que não são as riquezas nem o dinheiro, muito menos, a posição ou o reconhecimento. A causa principal é confiar que tudo isso será a passagem direta, a chave para abrir a porta larga. As facilidades nesse caminho são inúmeras, devido ao fato de que nunca teremos dificuldade para prosseguir em frente, haja vista não nos preocuparmos com ninguém, só conosco mesmo. Pena que o prêmio temporal, e também o final, será transformado em morte eterna.

Em Lc 12. 15-21 há um exemplo em derrubar, edificar, recolher, descansar, comer, beber, folgar, onde o homem crente é chamado de louco. “Assim é todo aquele que para si ajunta tesouros, mas para Deus é desgraçado, e miserável, e pobre, e cego e nu (Ap 3.17)”. Muitos ministros evangélicos estão passando por isso. Seu maior objetivo é derrubar o templo onde começou a dirigir, para construir (edificar) outro maior, e ter o reconhecimento de que foi “ele” quem inaugurou o novo templo. Para isso, recolhe todas as migalhas das ovelhas que pastoreia, e ainda assim critica as outras denominações que fazem o que ele faz. Depois descansa, não quer mais visitar suas ovelhas. Come do bom e do melhor, sem se preocupar com o que sua ovelha está ingerindo, tanto em casa como na igreja. Bebe só coca-cola e se a ovelha oferece ki suco, é excomungada. No final, como Jesus conta, está feliz e certo de que fez a coisa certa para Deus. Dizemos então que ele não estudou teologia, pois não conheceu o Senhor. Será? Por isso Jesus diz que a verdadeira revelação foi ocultada ao sábio, ao entendido. Contudo, os pequeninos, que são aqueles sem instrução, e também aqueles pequeninos super instruídos, mas que não colocam este conhecimento acima da dependência de Deus, sabem a verdadeira revelação dada pelo Filho de Deus. Será que somos ricos de ou por coisas insignificantes?

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